O tratamento cirúrgico da tireoide é realizado sob anestesia geral e se resume basicamente em duas cirurgias: Tireoidectomia Parcial e Tireoidectomia Total.
Na Tireoidectomia Parcial é removido apenas um dos lados da tireoide preservando o outro lado para manter a função hormonal do paciente, o que ocorre em boa parte dos casos. Na Tireoidectomia Total é removida toda a glândula tireoide e, neste caso, é mandatória a reposição do hormônio tireoidiano para o restante da vida do paciente que é a levotiroxina com uso de 1 comprimido ao dia pela manhã em jejum continuamente. Vale ressaltar que a levotiroxina (nome comercial mais conhecido: Puran) tem baixíssimo custo, substitui perfeitamente a função hormonal e não tem efeitos colaterais na dose devidamente ajustada com os exames de sangue.
Para a Doença de Graves sempre está indicada a Tireoidectomia Total. Já para o Bócio Multinodular Atóxico, pode ser Parcial ou Total, a depender se a doença acomete um dos lados da tireoide somente ou se acomete ambos os lados.
No caso do tratamento do Câncer da Tireoide, na maioria das vezes a indicação é a Tireoidectomia Total, porém em casos muito bem selecionados, pode ser realizada a Tireoidectomia Parcial. Para esta decisão, o Cirurgião de Cabeça e Pescoço irá analisar na consulta os exames de imagem (tamanho do nódulo e localização), aspectos do paciente, como idade, histórico familiar, função hormonal da tireoide, etc.
Importante: A decisão sobre o tipo de cirurgia é sempre tomada em conjunto com o paciente.
No caso do câncer de tireoide pode ser necessária uma cirurgia complementar chamada Esvaziamento Cervical Linfonodal (Linfadenectomia Cervical), a qual pode ser realizada no mesmo ato da Tireoidectomia Total caso já se tenha suspeita de metástases no diagnóstico inicial ou, também, pode ser realizada posteriormente se durante o seguimento do paciente vir a surgir uma suspeita de Metástase Cervical (disseminação do câncer para um gânglio (íngua) no pescoço após a tireoidectomia total). Vale ressaltar que as metástases do câncer de tireoide podem vir a aparecer muitos anos após a tireoidectomia para o câncer de tireoide, podendo surgir até 20 anos após o primeiro tratamento. Por isso é muito importante que o paciente pós tratamento do câncer de tireoide permaneça em seguimento com seu Cirurgião de Cabeça e Pescoço por muitos e muitos anos.
Tratamento Complementar com Iodo Radioativo (Iodo 131)
Em uma boa parte dos casos, é necessário que o paciente pós tireoidectomia total por câncer diferenciado da tireoide, receba uma dose única via oral de Iodo Radioativo, geralmente feita 2 meses após a cirurgia. É um tratamento tranquilo com pouquíssimos efeitos colaterais, estes mais relacionados às glândulas de saliva que podem inflamar após o paciente receber a dose. Por isso é necessário tomar muita água e comer frutas ácidas após receber a dose do Iodo 131 para “lavar” as glândulas salivares.
Para resumir, existem duas dosagens do Iodo Radioativo: baixa e alta. Quando indicada a dosagem baixa (até 50 mCi), o paciente não precisa ficar internado e faz o isolamento radioativo em sua própria residência mantendo uma distância mínima de seus familiares. No caso de dosagens mais altas, obrigatoriamente o paciente fica internado 1 dia em um quarto de chumbo, isolado , não podendo ter contato com nenhuma pessoa devido a alta radioatividade.
Vale ressaltar que hoje em dia, conforme os estudos mais modernos, muitos casos NÃO precisam receber o Iodo Radioativo após a cirurgia. Nestes casos a cura do Câncer de Tireoide é feita somente com a Cirurgia (Tireoidectomia Parcial ou Total).
Riscos Cirúrgicos da Tireoidectomia: Cuidados importantes na cirurgia – Monitorização Neurofisiológica
Os riscos cirúrgicos da Cirurgia de Tireoide (Tireoidectomias) se resumem em dois mais importantes: nervo da voz e hipoparatireoidismo
Nervo Laríngeo Recorrente ( nervo da voz) – Uso da Monitorização Intra-Operatória Neurofisiológica (MION)
Tela do Monitor do Neurofisiologista mostrando o estímulo do nervo laríngeo recorrente esquerdo. No caso, 100% de atividade do nervo sem déficits durante o ato cirúrgico de Tireoidectomia parcial esquerda. Segurança na preservação da voz do paciente. (arquivo pessoal do Dr. Daniel).
Atrás da tireoide se encontram os dois nervos laríngeos recorrentes, direito e esquerdo. Estes nervos são responsáveis pela movimentação das nossas cordas vocais. Na cirurgia de tireoide sempre existe o risco de haver sofrimento de um ou de ambos os nervos podendo levar o paciente a conviver com uma rouquidão definitiva. Essa sequela pode prejudicar a carreira profissional do paciente e o seu convívio social para o restante da vida, devendo ser utilizado na cirurgia o máximo de recursos tecnológicos possíveis com o objetivo de evitar tal dano indesejado.
Só o fato do paciente realizar sua cirurgia de tireoide com um Cirurgião de Cabeça e Pescoço, especialista próprio para o tratamento cirúrgico do câncer de tireoide, seus riscos de lesão do nervo da voz são muito baixos, pois o especialista em Cirurgia de Cabeça e Pescoço vivencia a tireoidectomia quase que diariamente em sua rotina e possui a expertise necessária para a realização do procedimento com segurança.
Porém, desde 2016, incorporamos de rotina em todas as nossas cirurgia de tireoide a MION (Monitorização Intra-Operatória Neurofisiológica). Nas nossas cirurgias, participa sempre um Neurologista/Neurofisiologista habilitado a realizar a MION, que consiste em monitorar os estímulos elétricos dos nervos laríngeos recorrentes (Nervos da Voz) e também do Nervo Vago (do qual se origina o nervo da voz) com um equipamento de monitorização que realiza uma Eletroneuromiografia em tempo real na sala de cirurgia. Dessa forma, o Neurofisiologista consegue passar as informações elétricas do nervo da voz para o Cirurgião de Cabeça e Pescoço durante toda a cirurgia. Estas informações ajudam o Cirurgião de Cabeça e Pescoço a evitar danos aos nervos da voz que seriam INVISÍVEIS AO OLHO DO CIRURGIÃO.
Por isso, hoje em dia está bem estabelecido que a cirurgia de tireoide realizada com MION é a técnica padrão ouro, podendo ser utilizada sempre que disponível na localidade e com cirurgião de cabeça e pescoço habilitado e acostumado (familiarizado) com a técnica. Este é o parecer atual do CFM (Conselho Federal de Medicina).
Com a Monitorização Intra-operatória do Nervo da Voz (MION) a cirurgia de tireoide fica muito segura e o risco de danos ao nervo da voz é estimado em torno de 1 para 1000 casos operados. É o menor risco possível nos dias atuais e com as tecnologias disponíveis. Por curiosidade, nos Estados Unidos (EUA) praticamente 100% das cirurgias de tireoide são Monitorizadas. Já no Brasil, estima-se que em torno de menos de 10% das cirurgias são Monitorizadas, sendo que a maioria no Brasil ainda é feita na técnica antiga, confiando o nervo da voz apenas ao olho do cirurgião no intra-operatório.
Hipoparatireoidismo (deficiência das paratireoides – hipocalcemia: queda do cálcio do sangue)
Atrás da tireoide existem 4 glândulas pequenas chamadas Paratireóides. Elas produzem um hormônio conhecido como PTH e que serve para manter o nível de cálcio do nosso sangue evitando a hipocalcemia (falta de cálcio no sangue).
Na cirurgia Tireoidectomia Total, sempre existe o risco das paratireoides serem removidas inadvertidamente junto com a Tireoide, o que seria uma consequência indesejada, pois na falta do hormônio PTH, a queda do cálcio no sangue irá gerar sintomas muito desconfortáveis como cãimbras e travamento das mãos o tempo do todo, podendo chegar até chegar a um quadro semelhante a tetania (contração muscular do corpo todo).
Por isso o cirurgião deve ter um cuidado extremo com as paratireoides durante a cirurgia da tireoide. Ele precisa identificá-las e manipulá-las com muita delicadeza, pois são muito sensíveis ao toque. Isto porque mesmo que não removidas inadvertidamente, caso não manipuladas com cuidado podem necrosar (morrer) devido a insuficiência de circulação sanguínea dentro delas gerando o hipoparatireoidismo.
Segundo os levantamentos estatísticos, o risco de problemas com as paratireoides em pacientes operados exclusivamente por Cirurgiões de Cabeça e Pescoço, gira em torno de 1% dos casos apenas.